Resumo da Viagem

20-11-2004 11:27

GIRO DEL MERCOSUR

Cansados de ouvirem histórias mirabolantes de problemas enfrentados em alguns países por motociclistas vários, o roteiro final foi definido contemplando esses lugares ditos problemáticos, para sabermos até onde certas pessoas supervalorizam suas viagens. E o roteiro básico ficou assim: São Paulo (SP); Foz do Iguaçu (PR); Asunción (PY), Reconquista, San Luiz e Uspallata (AR); Santiago, Pucón e Osorno (CH); San Carlos de Bariloche, Neuquén, Bahia Blanca, Mar Del Plata e Buenos Aires (AR); Colonia Del Sacramento, Montevideo e Chuy (ROU); Chuí, Pelotas e Porto Alegre (RS); Palhoça (SC); Curitiba e Morrtes (PR) e São Paulo (SP), o que resultou em 9.380 km rodados.

As bagagens, roupas, equipamentos e peças de reposição foram bem estudados, bem como a documentação necessária, valores de cambio das moedas e clima das regiões. Os dois decidiram que o melhor seria ter uma única roupa de viagem, a qual seria usada em todo o trajeto, e optaram por dois conjuntos da G-Tec.

A seguir o breve relato da dupla:

Saímos às 7:30 hs do dia 16/10/2004 de um posto na Marginal do Rio Tietê e tivemos belas surpresas, pois apesar da chuva o Márcio Carioca, o Zizare, o Eduardo e o Carlaile foram ao nosso ponto de partida para nos desejarem boa sorte. Quase choramos de verdade. Foi emocionante. Além disso, o Zizare e o Carlaile nos escoltaram por cerca de 300 km. Ainda que façamos mais 700 viagens pelo mundo, jamais esqueceremos este gesto de carinho.

O 1º ponto de parada foi em São Sebastião da Amoreira (PR), onde recebemos a visita de 4 integrantes do Pés Vermelhos M.C. de Londrina (PR), Anestesiado, Dino, Toninho, capitaneados pelo Júlio “Fred” Cezar. E Ficamos lisonjeados. Na manhã seguinte, apesar da forte chuva, resolvemos seguir para foz do Iguaçu, onde chegamos na boca da noite exaustos, famintos e encharcados, pois choveu durante todo este trecho. Um dilúvio amazônico, e devido ao temporal resolvemos ficar um dia mais ali para limparmos as roupas de viagem e as bagagens, além de nos informarmos sobre os trâmites aduaneiros.

De lá fizemos nossa entrada no Paraguay, o que não levou mais de 10 minutos, e seguimos pela Ruta 7, uma bela rodovia que corta um país verde com leves colinas, até chegarmos a Asunción, capital do Paraguay. Casualmente nos instalamos num hotel ao lado da Klein Motocycles, a melhor oficina de motos do país, e que pertence ao Cláudio Klein, um brasileiro que é cobra em restaurações e personalização.

No dia seguinte cruzamos a fronteira com a Argentina, em Clorinda. Os trâmites aduaneiros também foram rápidos e eficientes. Seguimos pela Ruta 11 e não paramos em Resistência, seguindo até Reconquista. No dia seguinte saímos cedo pela Ruta 11 no sentido sul e depois oeste no rumo de Santa Fé. Em um dos reabastecimentos desse trecho percebemos que um prego grande tinha transpassado o pneu trazeiro da BMW, como um piercing, o que provocou uma entrada em Santa Fé para o conserto, e tivemos que rodar 45 km com o tal do prego no pneu. Como o prego quebrou um pedacinho da roda de liga leve, improvisamos com uma câmara de ar para motos 125 cc com calço na válvula, pois os pneus eram sem câmara e não previmos a possibilidade de precisarmos usar câmaras. Essa câmara iria sobreviver a quase toda a viagem. Inacreditável. Para compensar o transtorno e o atraso, esticamos até San Francisco.

No dia seguinte, com apenas 100 km rodados tivemos que parar em Las Varas (AR), pois o pneu que tinha piencing e agora manchão quis morder a câmara de ar, o que esvaziou o pneu e motivou mais 3 horas de atraso para o novo conserto. Daí seguimos por Villa Maria, Rio Cuarto e Villa Mercedes até San Luiz, onde compramos uma câmara de ar na medida certa para reposição, e pernoitamos. Em San Luiz sentimos que estávamos nos aproximando dos Andes, pois à noite o frio chegou forte.

Desde a divisa com o Paraguay descendo até ao sul de San Luiz, a paisagem Argentina é suavemente plana com poucas colinas, ponteada por algumas cidadezinhas bonitas e com direito a uns oásis de beleza. As estradas também são muito boas.

De San Luiz seguimos pela Ruta 7 na direção de Mendoza e com destino a Uspallata (AR), já na Cordilheira dos Andes. No início deste trecho há uma grande reta de uns 50/60 km, e de cima vimos todo o horizonte com o deserto a seus pés. A impressão que dava era a de que o mundo terminava no final daquela estrada, era como se víssemos a circunferência da Terra. No meio do caminho deparamos com um local atípico para a região, rodeado de árvores e de montanhas... era a cidade de La Paz. Logo adiante chegamos a Mendoza, uma linda cidade turística, a capital dos grandes vinhos argentinos. Mendoza nos pareceu um lugar bem agradável, com boulevards por todo o centro e ruas muito arborizadas. Lá voltamos a ver motos de grande cilindrada, que não víamos desde São Paulo.

De Mendoza seguimos pela Ruta 7 Internacional e começamos a ver melhor os Andes e suas montanhas nevadas de um lado, e o solo desértico do outro. Para melhorar ainda mais a paisagem, passamos a seguir o serpenteio do Rio Mendoza, que descia ao nosso lado. Após uma seqüência indescritível de paisagens lindíssimas chegamos a Uspallata, que parece a mistura de Monte Verde com Brotas. Uspallata é uma gracinha, encravada nos Andes a uma altitude de 2.400 metros. Ali encontramos 2 motociclistas belgas (Cristian e André), e 1 italiano (Maurizio) que estavam indo de Santiago do Chile a Curitiba.

De Uspallata a caminho de Santiago do Chile, logo no início da subida dos Andes o vento lateral jogou o Marcão fora da pista, e foi difícil controlar a moto devido a seu peso, mas fomos em frente mesmo com o vento brabo, até porque não adiantaria voltar. Fizemos uma parada obrigatória em Puente Del Inca, um monumento natural com ruínas de uma antiga estação termal da era incaica. Lá encontramos 2 grupos de brasileiros aventureiros. Seguimos até a entrada do Parque Aconcágua em Los Orcones, onde tentamos ver um pedacinho da face sul de um dos montes mais festejados do planeta. O parque estava fechado pois era fora de temporada.

Seguimos Andes acima e à essa altura o frio já era muito forte, as laterais da pista e as encostas já acumulavam neve. Para essa travessia estávamos preparados, bem encapotados, pois o frio gelava até a alma. Daí passamos por Los Penitentes e Las Cuevas, duas estações de esqui, e ainda no lado argentino passamos por um túnel de uns 300 metros. Foi como passar dentro de um freezer. Muito punk. Daí veio o túnel internacional Cristo Redentor, entre a Argentina e o Chile. Muito grande, um freezer maior ainda que o anterior. Além de tudo havia um trecho deste túnel sem iluminação... foi como um trem-fantasma de final improvável. Muita adrenalina.

Logo após passamos pela fronteira entre a Argentina e o Chile, onde os trâmites aduaneiros foram feitos minuciosamente e de maneira correta e rápida. Fomos muito bem tratados ali. A essa altura estávamos a 3.600 metros de altitude. Daí descemos os famosos Caracoles, depois outro trecho sem excessivas curvas, e veio o mais brabo: um trecho de 9 km seguido de outro com 6 km de puro ripio sem nenhuma compactação, por conta de reformas na pista. Ali a câmara de ar improvisada do pneu trazeiro da BMW resistiu bravamente. Depois disso entramos numa magnífica autopista a partir de Los Andes até Santiago, onde paramos para dormir. Santiago é tudo de bom, linda preservada, cosmopolita e hospitaleira.

Após conhecermos Santiago, Viña Del Mar e Valparaiso, seguimos no rumo sul pela Ruta 5 transpanamericana. Nossa saída de Santiago foi surpreendente e emocionante, pois os veículos que passavam por nós e os que nós ultrapassávamos, davam-nos sinais de mão, nos buzinavam, nos mandavam beijos como que nos desejando uma boa viagem e “suerte”. Obrigado ao povo chileno. Foi lindo.

Para o sul do Chile viaja-se tendo-se sempre os Andes nevados à esquerda, o que é um up grade visual, uma coisa preciosa. Os rios que cruzam a Ruta 5 são de uma beleza ímpar. Os campos chilenos são muito bem cuidados e as autopistas chilenas são um capítulo à parte. Excelentes.

Saímos a caminho de Chillan, onde pretendíamos pernoitar, porém devida a uma vacilada numa alça de acesso, decidimos seguir até Santa Maria de Los Angeles, mais ao sul e onde chegamos na boca da noite. Visitamos suas praças bem arborizadas na manhã do dia seguinte, pois o tiro até Pucón seria bem curto, cerca de 300 km.

Assim, tomamos a Ruta 5 no sentido sul e fomos nos deliciando com a paisagem magnífica. Após uns 50 km tivemos que parar numa praça de pedágio (todos pagos) para nos agasalharmos, pois o frio estava brabo. Voltamos também a utilizar as polainas para manoplas. Após cerca de 1 hora de viagem, nesse dia, começamos a divisar ao longe um grande vulcão que pensamos ser o Villa Rica, mas depois soubemos que era o Llaima, com direito a pit stop para fotos. Logo após, nova parada para fotos de uma bela ponte ferroviária que cruza o Valle Malleco.

A partir de Traiguén começam as extensas áreas agricultadas com feno e flores, que se estendem até ao sul de Temuco, e que nessa época do ano dão um show especial, como se fora um improvável tapete de sonhos.

Seguimos pela Ruta 5 até Freire onde tomamos a Ruta S-199 na direção de Villa Rica e com destino a Pucón. Chegando a Villa Rica tivemos a visão extasiante do lago Villa Rica com o vulcão do mesmo nome ao fundo. Indescritível e de tirar o fôlego, ainda mais tendo-se em conta que este era um dos principais objetivos desta viagem. Contornamos o lago para chegarmos a Pucón, onde ficaríamos por duas noites, para ordenarmos algumas coisas e para escalarmos o vulcão. Lá chegando ficamos maravilhados com a cidade... parece irreal de tão linda, bem arrumadinha e limpa.

Nessa noite jantamos uma cazuela de vacuno, espécie de sopa substanciosa típica da região, bem temperada com haji, forte e saboroso.

Na manhã seguinte o Tony foi escalar o vulcão Villa Rica, porém devido ao mau tempo, a subida da encosta foi abortada por apresentar perigo excessivo. Daí aproveitamos o tempo para por nossas vidas em ordem na medida do possível.

De Pucón o plano de vôo era o de ir a Puerto Montt no sentido sul, e voltarmos para pernoite em Frutillar com vista à travessia da fronteira sul dos Andes. Saímos de Pucón pela Ruta S-199 até Villa Rica, e dali pela Ruta S-91 no sentido de Loncoche até o entroncamento com a Ruta 5, aquela autopista maravilhosa. Daí seguimos por esta última no sentido sul. Paramos num mirador para apreciar o vale do Rio San Pedro. Maravilhoso.

Entre Los Lagos e Osorno pegamos chuva intermitente e a temperatura caiu muito. Na entrada para Rio Negro a chuva aumentou demais e paramos para calçarmos as polainas, fazendo também uma reunião de cúpula onde tomamos uma decisão radical e importante: como a previsão de mau tempo estava se confirmando, de nada adiantaria irmos a Puerto Montt, Puerto Varas e Frutillar, pois com muita chuva e tempo encoberto não aproveitaríamos nada, dispendendo tempo, energia e dinheiro à toa. Além disso tudo e principalmente, com tempo ruim certamente iria nevar na transposição sul dos Andes no dia seguinte, e o caminho estaria então fechado e daí ficaríamos retidos no Chile. Fomos alertados sobre essa possibilidade.

Assim, voltamos de Rio Negro para Osorno e dali entramos na Ruta 251 rumo a Entre Lagos, onde paramos para reabastecimento. Entre Lagos é uma cidadezinha pitoresca e, como seu nome denuncia, fica entre os lagos Puyehue e Rupango. Nessa rota chegamos à aduana chilena em Pajaritos, e estranhamos a falta de movimento ali. Fizemos os trâmites de praxe, seguimos até o marco internacional de divisa entre o Chile e a Argentina, e então descobrimos o porquê de a estrada estar vazia – é que havia muita neve e gelo na pista ! Mas teríamos que prossegui até San Carlos de Bariloche ou, no mínimo, até Villa La Angostura.

Foi um trecho de pura adrenalina e de uma paisagem maravilhosa, surreal, indescritível. Nos pareceu que estávamos chegando à casa do Papai Noel. Após a aduana Argentina passamos pelo lago Espejo, encrustrado nos Andes. Atravessamos este trecho com temperatura variando entre –5 e –2 graus Celsius, segundo nos informaram.

Daí seguimos pela Ruta 231 e reabastecemos em Villa La Angostura. Linda, chique, exótica, um presépio ! Nessa altura já se começava a avistar o lago Nahuel Huapi, que é imenso e banha toda a região de Bariloche. Seguimos dentro da paisagem característica da Patagônia – formações rochosas entre extensas planícies, contornamos parte do impressionante lago Nahuel Huapi até chegarmos a San Carlos de Bariloche, já de noitinha. Para que pudéssemos nos aquecer jantamos dignamente com direito a um vinho de estirpe.

É curioso que, casualmente, tenhamos atingido num mesmo dia os dois pontos mais austrais de nossa viagem: Rio Negro (Chile) e San Carlos de Bariloche (Argentina), no paralelo 41.

No dia seguinte lavamos roupa e, malgrado a chuva, fomos conhecer essa cidade tão famosa. Bariloche é mesmo uma cidade de grife. Linda, sofisticada, chique e charmosa. Ali a natureza foi muito generosa. E não é para o nosso bico, mas fizemos de conta. Há uma profusão de lojas de chocolate, de roupas e de material fotográfico. As padarias de lá fazem pães que são obras de arte. Um luxo !

Saímos de Bariloche e seguimos Patagônia acima rumo a Neuquén, pela Ruta 237. Essa rodovia acompanha o Vale do Rio Limay por cerca de 150 km que noa dá um visual de sonho. Neste trecho é necessária muita atenção, pois de Bariloche a Piedra del Aguila são 212 km, e só há um único posto (estación de servicio) meio que escondido numa variante a 75 km de Bariloche.

Prosseguimos por uma amplidão totalmente desolada, e o vento lateral fortíssimo não nos dava trégua nas retas infindáveis. A desolação de região é tal, que às vezes tem-se a impressão de que a pista liga o nada a lugar nenhum. Atravessar o deserto da Patagônia é uma tarefa triste, pois provoca um sentimento agudo de solidão, o que abate o moral.

Após 155 km chegamos a Villa El Chacón – La Ciudad de Los Dinosaurios ! Acreditem. Dali seguimos até Neuquén – a Capital do petróleo da Patagônia. Não recomendamos essa cidade a ninguém, pois seu povo é avesso a motociclistas e a turistas de forma geral, e seus hotéis são muito ruins, caros e não têm garagem. É uma cidade hostil ao visitante.

No dia seguinte tomamos a Ruta 22 no sentido de Bahia Blanca. Para o norte de Neuquén até uns 60 km após, o tráfego é por demais pesado e exige atenção. Até a uns 110 km após, a estrada é ladeada por extensos campos agricultados, divididos e guarnecidos por álamos. Bonito. É a prova de que as regiões desérticas podem ser domadas.

Logo após, na altura de Chelforó, um pueblito no meio do nada, a paisasem volta a ficar bem desértica e com ventos fortes. Abastecemos em Choele Choel onde conversamos com integrantes de La Agrupación Moteros Ruídos Extraños, o moto clube local. E fomos adiante, pois além de Rio Colorado – La Puerta de la Patagônia, o deserto havia terminado para nós.A partir daí a paisagem é de extensas pradarias onde se pratica uma pecuária maiúscula, e a pista é muito boa até Bahia Blanca, onde pernoitamos.

Em todo o interior da Argentina, em especial na Patagônia, há uma infinidade de insetos nas estradas, tornando o párabrisas um equipamento indispensável às motocicletas ali.

No dia seguinte saímos pela Ruta 3 no sentido de Três Arroyos e com destino a Mar Del Plata.Três Arroyos é uma cidade bonitinha e, digamos, “ficável”. Dali tomamos a Ruta 228 no sentido de Necochea, onde pegamos a Ruta 88 para Mar Del Plata, onde pudemos rever o Atlântico. Mar Del Plata é lindíssima, com a orla marítima recortada em enseadas, o que torna as paisagens dali ainda mais belas, e tem um por-do-sol indizível ! É uma cidade que, sem a menor dúvida, vale à pena.

De Mar Del Plata saímos rumo à Buenos Aires com tempo carrancudo e muito frio. Poucos kilômetros adiante uma chuva boa nos pegou. Foram 100 km de chuva forte e muito frio. Daí pra frente, pelos 280 km seguintes, fomos apresentados à uma tempestade austral. É uma coisa medonha, fica tudo cinza-chumbo, a visibilidade cai para poucos metros, a água desce com vontade o os ventos laterais são inecreditáveis.

No meio dessa fúria aquática paramos por duas vezes nos postos climatizados, fizemos auto-massagens e tomamos chcolate bem quente, pois havia um risco real de hipotermia. Foi mesmo uma provação, por vezes nos deu vontade de parar no acostamento, esperar passar a Arca de Noé e pedir-lhe carona.

De Mar Del Plata a Buenos Aires fomos pela Ruta 2, uma autopista magnífica, com drenagem perfeita, sem detalhes. Chegamos e nos extasiamos com Buenos Aires, por ser uma cidade de grande categoria, imponente e aristocrática. Ainda é a capital da América do Sul. No dia seguinte providenciamos nossos bilhetes para o Buquebus, que nos levaria ao Uruguay, e fomos conhecer um pouquinho da capital portenha. Fomos a pontos turísticos tradicionais, e a outros nem tanto.

No dia seguinte saímos com bastante tempo de antecedência para fazermos com calma os trâmites alfandegários, aduaneiros, de cambio e de embarque no Buquebus, com destino a Colônia Del Sacramento, na República Oriental del Uruguay, onde desembarcamos após pouco mais de 1 hora de travessia do Estuário do Rio da Prata, e tomamos a Ruta 1 com destino a Montevideo. A Ruta 1 é uma linda autopista quase que totalmente duplicada, e muito bem cuidada.

Chegamos a Montevideo e logo fizemos um reconhecimento da orla do Estuário do Rio da Prata. Agradou de cara. Daí fomos conhecer o centro da cidade com seus edifícios centenários muito bem preservados. Notamos que Montevideo, em que pese ser capital de um país, é totalmente calma, limpa, ordenada e linda. Foi uma agradável surpresa.

No dia seguinte rumamos para o norte do país totalmente sem pressa, pois queríamos apreciar um pouco do litoral uruguayo, e o costeamos até San Jose de Carrazco, onde retomamos a Ruta 1, que neste trecho brinca de esconde-esconde com a orla marítima. Mais à frente pegamos a Ruta 1-B a caminho de Maldonado e passamos por praias paradisíacas, como Punta Ballena que é um show especial, e saímos em Punta Del Este... um desbunde ! Sem palavras !

Atlântico acima paramos também em La Barra para abastecermos as motos e os estômagos. La Barra é extremamente agradável e com um visual maravilhoso. Seguimos subindo o litoral até Manantiales, onde entramos pela Ruta 104 até seu entroncamento com a Ruta 9. Daí seguimos por esta última para o norte tendo como paisagem os campos agro-pecuários uruguayos.

A topografia uruguaya é muito bonita, e alegoricamente seria como um imenso plástico-bolha em vários tons de verde, cortado por arroyos e sangas límpidos, dada à sucessão de suaves coxilhas. Descansa os olhos.

Abastecemos em Rocha e logo após já estávamos entrando de volta no Brasil, e nem seria preciso placa indicativa, pois bastaria notar a estrada em estado lastimável... é incrível como uma simples letrinha pode mudar tudo ! Estávamos em Chuy (Uruguay) e ao cortarmos apenas uma avenida, já estávamos em Chuí (Brasil). À essa altura já estávamos com saudades do Uruguay, da Argentina, do Chile e do Paraguay, pois o lado brasileiro em Chuí é um lixo.

No outro dia subimos pela BR-471 para Pelotas, onde seríamos hospedados pelo casal Walter e Lucy Salazar, grandes amigos e viajantes dos bons, e paramos para apreciar o trecho em que essa estrada corta o Banhado do Taim, uma reserva ambiental razoavelmente bem preservada. Na altura de Rio Grande a câmara improvisada do pneu trazeiro da moto do Marcão deu seu último suspiro, e na borracharia foi tirada do pneu em tiras, qual uma roupa de espantalho. Já em Pelotas fomos à lavanderia, passeamos um pouco, reorganizamos as bagagens e fizemos uma contabilidade prévia, além de um baita churrasco a nós oferecido pelo casal Walter e Lucy.

Dia seguinte saímos de Pelotas cedo, pois havíamos marcado hora para nos encontrarmos com o João Vargas (do Cruzando Sul M.C.), o qual nos hospedaria em Porto Alegre. Subimos pela BR-116 com chuva muito forte. Essa estrada é mesmo sem vergonha, feia, cheia de remendos e buracos. E é pedagiada ! Como alguém pode pagar para usar esse lixo de estrada sem espernear ?

Ao chegarmos a Porto Alegre a chuva tinha acalmado e fomos nos instalar no centro da cidade, onde fomos recepcionados por Touanda e Paloma, as filhas do João Vargas. Nosso hospedeiro nos ciceroneou por uma viagem cultural de qualidade nos espaços públicos da capital dos gaúchos. O João é cinéfilo brazuca de carterinha. Motociclismo é também cultura.

Pretendíamos ficar dois dias em Porto Alegre, mas como a chuva não dava trégua optamos por tomá-la na estrada, a caminho de Palhoça (SC), onde ficaríamos hospedados na casa do grande amigo Gau, uma legenda do motociclismo nacional. Assim, subimos pela famosa Free Way que liga Porto Alegre a Osório. É uma indignidade se pagar pedágio numa estrada nesse estado lastimável de conservação. É uma afronta. A Free Way já conheceu tempos melhores. Do final da Free Way seguimos pela BR-101 que também está muito mal conservada, com um fluxo absurdo de caminhões que faziam subir um spray sujo por causa da chuva forte, e nos tirava toda a visibilidade. Mas chegamos bem em Palhoça, onde o Gau nos aguardava. À noite fomos brindados com um grande churrasco de recepção oferecido pelo Gau e pelos Brazil Rider’s.

Aqui cabe um esclarecimento e uma homenagem: O Gau é uma figura humana da melhor espécie, excelente anfitrião, amigo fiel e muito bom papo, além de ser de longe o maior motociclista deste país. Temos o maior orgulho de podermos privar de sua amizade.

Ficamos dois dias em Palhoça, e apesar da chuva visitamos Florianópolis, a capital da bela e Santa Catarina. Nesse dia jantamos um peixe divino, preparado pelo Gau, que é também excelente mestre-cuca.

No dia seguinte rumamos para o norte com destino a Curitiba, capital do Paraná. Saímos bem tarde, perto do meio-dia, porque sair da casa do Gau é tarefa difícil, pela hospitalidade e por ele ter um sem número de histórias maravilhosas, interessantes, engraçadas e culturais. Retomamos a BR-101 que neste trecho está totalmente duplicada e razoavelmente bem conservada. Rapidamente chegamos a Curitiba e o tempo estava bom, por incrível que pareça. Fomos ao Museu Ferroviário e conhecemos parte do centro da cidade.

No dia seguinte fomos a Morretes pela Ferrovia da Graciosa que corta a Serra do Mar parenaense, onde almoçamos um competente Barreado. Voltamos e arrumamos toda a bagagem para, na manhã seguinte fazermos o trecho final dessa viagem.

Saímos de Curitiba pela PR-277 até oseu entroncamento com a BR-116, e por essa última no sentido norte. É impressionante o mau humor do clima da Grande Curitiba e do leste paranaense. Até a divisa com o Estado de São Paulo fomos brindados com neblina espessa até o rés do chão, garoa, chuva fina, visibilidade de 5,00 metros, chuva forte e ventos alternadamente conforme avançávamos os kilômetros.

Apesar das imensas constelações de buracos e da inacreditável má conservação da BR-116 no Estado de São Paulo, chegamos bem, inteiros e com as motos idem. Apenas com uma das rodas traseiras (a da BMW) amassada. Fizemos a foto de fechamento defronte ao Estádio Municipal do Pacaembu, foto essa batica pelo Nenad, e fomos para nossas casas para tirarmos a poeira e matarmos a saudade de 9.380 km de estradas e de 29 dias em 5 países.

Para não cometermos injustiças, queremos agradecer a todos que nos incentivaram, aos que nos ajudaram de alguma forma, aos que duvidaram e desdenharam, às orientações recebidas, aos povos e às autoridades dos países que visitamos pelo tratamento recebido, e principalmente às nossas famílias.

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