No paraleo 41 e Abaixo de Zero

30-10-2004 17:14

No Paralelo 41 e Abaixo de Zero!

Ontem acordamos cedo, arrumamos as bagagens e fomos analizar o horizonte para tentarmos antever como andaria o tempo, pois o plano de voo era seguir até Frutillar, acertarmos o hotel, seguir até Puerto Montt, e voltar para pousarmos em Frutillar, visando a travessia sul dos Andes. Como o tempo estava mais ou menos, mandamos bala e pusemos os pés na estrada.

Saimos de Pucón as 10 hs e pegamos a Ruta S-199 até Villa Rica. Antes da segunda curva da estrada já estávamos com saudades, pois Pucón nos cativou de verdade com tudo que já disse de lá, e com sua vegetacao exuberante que explode em mil cores e tons, e sua gente muito legal.

Em Villa Rica tomamos a Ruta S-91 no sentido de Loncoche até o entroncamento com a Ruta 5, aquela autopista maravillosa. Daí seguimos por essa última no sentido sul. Paramos num mirador onde se pode apreciar o vale do Rio San Pedro. Maravilloso, lindo e limpo ¡ Daí paramos em Los Lagos para um rango ec reabastecimento.

Interessante notar que até agora Los Carabineros de Chile, a policía chilena, nao tomou conhecimento de nossa presenca pelo Chile, o que é um grande alívio.

Aí a coisa comecou a preocupar, pois entre Los Lagos e Osorno pegamos chuva por 3 vezes e esfriou demais. Na entrada para Rio Negro a chuva aumentou muito e paramos para pormos as polainas nos pés. Nessa hora fizemos uma reuniao de cúpula (nao confundir com cópula) e tomamos uma decisao radical e importante: Considerando que, como a previsto do tempo estava se confirmando, de nada nos adiantaria irmos a Frutillar e Puerto Montt (sul do Chile), pois com muita chuva e tempo totalmente encoberto nao aproveitaríamos nada, e seria um gasto inútil de tempo, de energia e de dinheiro, coisas que infelizmente nao temos de sobra. Tinhamos acabado de passar por Osorno e nenhum monte nem o Vulcao Osorno estavam visíveis. Uma pena. Além de tudo isso e principalmente, com tempo ruim iria certamente nevar na fronteira no dia seguinte e ficaríamos retidos no Chile, pois o caminho estaria fechado, e fomos alertados sobre essa possibilidade.

Assim, decidimos voltarmos imediatamente de Rio Negro para Osorno, e daí entrarmos na Ruta 251 para Ente Lagos, onde paramos para reabastecimento. Entre Lagos é uma cidadezinha bem pitoresca e como o nome denuncia, se situa entre os lagos Puyehue e Rupango.

Daí proseguimos até a aduana chilena no local chamado Pajaritos, a 51 km de Entre Lagos. Achamos meio estrtanho pois nao havia movimento alí. Fizemos os tramites numa boa. Proseguimos até o marco de divisa internacional entre o Chile e a Argentina, e alí descobrimos o porque de a estrada estar vazia – é que havia neve e gelo na pista! Mas já que havíamos chegado até alí, resolvemos continuar a duras penas até San Carlos de Bariloche, já na Argentina.

Foi um trecho de pura adrenalina e de uma paisagem MA-RA-VI-LHO-SA, SUR-RE-AL, IN-DES-CRI-TI-VEL. Parecia que estávamos chegando na casa do Papai Noel. Quase ouvimos a sineta do seu trenó. Muito lindo. Poucos kilómetros após a aduana argentina deparamos com o Lago Espejo, um magnífico expelho d´água encravado nos Andes. Apesar da chuva, fotografamos.

O trecho entre Osorno (Chile) e San Carlos de Bariloche (Argentina) é seguramente um dos caminhos mais lindos do mundo, ao menos nessa época. Indescritível.

40 km após a aduana chilena chegamos a aduana argentina, e atravesamos este trecho com a temperatura abaixo de zero. Fomos informados que a variacao era entre -5 e -2 graus. Daí em diante seguimos pela Ruta 231 argentina e paramos para reabastecimento em Villa La Angostura. Linda, chique, exótica, UM PRESÉPIO!. Aquí já se comeca a avistar o lago Nahuel Huapi, que é imenso, lindo e banha toda a regiao de Bariloche.

Infelizmente, quando atingimos a Villa La Angostura já estava anoitecendo e o tempo continuava por demais carrancudo, o que nos impossibilitou de tirarmos fotos dalí, além do que estávamos agoniados para chegarmos ao novo destino.

Seguimos tendo a nossa volta a paisagem característica da Patagonia – formacoes rochosas entre extensas planicies. Parece ser muito inóspito.

Daí contornamos o impresionante Lago Nahuel Huapi até chegarmos a San Carlos de Bariloche, onde, na noitinha, nos hospedamos no Hotel San Remo. Quando chegamos ontem, a temperatura era de 2 graus na cidade, nada demais para quem atravessou a fronteira abaixo de zero ¡ Daí tomamos banho fervendo para ativar um puco a circulacao, e fomos jantar dignamente, com directo inclusive a um vinho de estirpe. Muito bom.

É curioso notar que, casualmente, atingimos no mesmo dia os dois pontos mais austrais (mais ao sul) desta nossa viagem: Rio Negro (Chile) e San Carlos de Bariloche (Argentina). Estamos no paralelo 41, e muito embora estaremos prosseguindo por caminhos ainda nao trillados por nós, a partir de amanha será como o início do retorno, pois estaremos subindo o continente.

Hoje acordamos cedo, abrimos a janela do quarto que dá vista para o esplendido Lago Nahuel Huapi, e fomos brindados com um belo arco-íris, embora tenha comecado a chover muito depois, e continuou por todo o dia essa melena de chuva. Tomara que amanha pare.

Tomamos café, demos uma volta na chuva mesmo e voltamos ao hotel para assistirmos ao Moto GP de Valencia (Espanha), vencido pelo Valentino Rossi, só prá variar um pouco.

Como a chuva nao deu tregua, fomos assim mesmo levar as roupas prá lavar, pois a coisa tá braba. Almocamos, fomos conhecer os arredores num passeio molhado e muito frio. Bariloche é mesmo uma cidade de grife. Linda, sofisticada, chique e charmosa. Também nao é para o nosso bico, mas estamos fazendo de conta. Há uma profusao de lojas de chocolate, de roupas e fotografia. Tudo muito fino. As padarias daqui fazem paes que sao verdadeiras obras de arte. Um luxo!

Agora o Tony foi buscar as roupas lavadas e eu estou aquí fazendo este relato. A noite iremos jantar, arrumar as bagagens e as motos, e dormir para que amanha possamos seguir rumo a Neuquén, na Patagonia.

Abracos e beijos gelados,

MARCAO e TONY

San Carlos de Bariloche, em 31 de outubro de 2004

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