Incursão à Praça da República

12-09-2004 10:41

 

Incursão Urbana à Praça da República (SP)


Sabedores de que não iria dar praia, pois o tempo estava bem carrancudo, reailizamos uma caminhada de reconhecimento e de exploração à tradicional Feira de Arte e Artesanato que rola aos domingos na Praça da República, na capital de São Paulo.

Essa feira teve início nos primórdios dos anos 60’, época onde ocorreram as modificações mais profundas e radicais nas sociedades e no comportamento geral ao redor do mundo, quando estava na onda o Flower Power, o blue jeans, o Pasquim, os Beatnicks, os psicodélicos, os Beatles, os Rolling Stones, a Revolta Estudantil, a mini-saia, Chico, Caetano, Gil, Bethânia, Torquato Neto, Zé Celso, Glauber Rocha, Vietnan, Gabeira, AI-2, Henfil, Elis, Vandré, o irmão do Henfil, ALN, AI-5, MR-8, Che Guevara, VAR-Palmares, Teatro de Arena, Jô Soares, Congresso Estudantil de Ibiúna, e a infeliz repressão dos militares golpistas. Nessa época marcante e inesquecível, essa exposição a céu aberto era chamada carinhosamente de Feira Hippie.

Assim, no dia 12 de setembro, um domingo garoento, nos encontramos na Praça da República, primeiramente o Marco Antonio, a Fatiminha e eu. Já de início, a título de desjejum, traçamos uns tempurás que tinham o tamanho de discos de vinil. Pareciam OVNIS. Daí fomos fazer a pequena digestão visitando parte das barracas da feira, apreciando e comentando a criatividade dos artistas expositores e enchendo os olhos de cores e tons.

Não tardou muito para que nos juntássemos ao Barroso e a Sandra, e assim tal qual uma equipe de futsal mal treinada, fomos praticar o esporte preferido da Fatiminha e da Sandra (e de outras ausentes também): fuçar feiras de arte e artesanato. De antemão já sabíamos que a pernada seria longa. E bota longa nisso !

No meio da muvuca e do povaréu o Barroso descobriu a efígie de um cacique apache, muito bem trabalhada, com um cocar de penas azuis verdadeiras, e se apaixonou pela escultura, porém a Sandra deve ter pensado que seria muito cacique pra pouco índio, e o Barroso ficou só na vontade.

Continuamos nossa caminhada por entre verdadeiras explosões de idéias geniais e nos interessamos por blusas, jaquetas, roupinhas infantis, incensos, gnomos, sandálias, telas esculturas e outros bichos. De repente o Marco Antonio sumiu ! Chegamos a pensar que talvez ele houvesse sido abduzido pelo Yellow Submarine ou pelo Fura-Fila do Pitta, mas ele retornou vestido com uma camiseta do Raulzito. Grande Marco ! Maluco Beleza é ele.

É interessante se notar que nessa feira pode-se apreciar uma fauna humana adimirável. Parece até que, de tudo que se move na Terra, há ali um representante. O bom disso é que, em se passeando por ali, recicla-se a cabeça e areja-se o pensamento e o espírito.

A essa altura, considerando que os viventes estavam com os buchos vasados de uma fome transatlântica, resolvemos dar um vôo rasante na Praça de Alimentação da feira para deglutirmos uns troços. Daí foi um festival de Yakissoba, Sushi, Tempurá, Acarajé e o escambau. Tudo isso regado a refris e papo furado. O Barroso gostou tanto do acarajé que até sua blusa se refestelou no molho. E teve mais, pois o Marco Antonio mais parecia a Ana Maria Braga trocando receitas com o pessoal de Hiroshima e Nagazaki.

Para arredondar de vez o rega-bofe dominical, lançamos âncoras numa barraca de doces, e aí a coisa pegou ! Foi um tal de comer pudim de milho verde, quindim, bolo de coco e de chocolate ... uma verdadeira provocação glicêmica. Inclusive o Marco Antonio teve uma “ovodose”. Haja quindim ! E o tal quindim era tão completo que tinha até pena da galinha que botou os ovos.

Terminado o empanturramento glicoidal, prosseguimos na peregrinação em busca de coisas diferentes, e na compra das coisas que nos interessaram na primeira passagem pelas alamedas da feira, e nos dirigimos à ponta oposta da Praça para buscarmos um quadro pelo qual o Barroso havia se interessado demais. E pasmem ! Segundo o dileto companheiro Barroso, era um quadro de um navio no mar ! Se ainda fosse um navio na floresta, na serra da Cantareira ou na Av. Ipiranga, tudo bem. Mas um navio no mar ... que coisa estranha. Porém, infelizmente quando chegamos ao local, o navio já tinha zarpado.

Nesse momento o Barroso e a Sandra pegaram umas fotos para nos mostrarem, e agraciaram este escriba com uma garrafa de um legítimo Lambrusco dell’Emilia frizzantino rosso amabile. Meu fígado agradeceu-lhes penhoradamente. Brigadão Barroso & Sandra.

Para encerrar a bela jornada, o pessoal resolveu tomar chocolate quente e cappuccino com canela, e para tanto escolheram “a dedo” um local muito bem freqüentado e agradável, numa esquina impessoal da grande metrópole. Porém, antes de sorver o tal cappuccino, o Marco Antonio resolveu subir até o mezzanino do lugar para desaguar, e voltou correndo, ainda pingando, pois ele descobriu da pior forma possível, que ali funcionava o Sindicato da Boiolagem, e no W.C. havia vários militantes !

Após o susto do incauto, restou-nos somente as despedidas de praxe e o caminho da roça rumo a nossos lares.

Cabe ainda aqui um último adendo: o Marco Antonio comprou nessa feira, para levar para casa, um rolo de sushi que mais parecia fumo-de-corda de Itú, e um maço de incensos. Só que o vivente pôs tudo dentro da mesma sacola plástica ! Agora na casa dele vai ser um tal de comer sushi com sabor sândalo, e acender incenso com aroma de algas e peixe cru ...

Porém, por tudo isso foi uma jornada deliciosa e memorável. Ficamos certamente todos com os espíritos mais ricos. Quero agradecer a todos, inclusive aos ausentes, pois mesmo em pensamento sabemos que estiveram conosco nessa.

E como diz meu querido companheiro João Vargas, o querido índio velho do Cruzando Sul M.C. de Porto Alegre (RS), “Se não fôssemos motociclistas, nossas vidas seriam muito, muito vazia.”

Abraços e beijos a todos.

Marcão, em 13 de setembro de 2004.

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