DE REPENTE, 3º MOTO CAPITAL

25-07-2006 10:58

Estava tudo combinado para, no dia 30 de julho, a Fatiminha e eu irmos a Aparecida (SP) para mantermos nossa tradição de, pelo menos uma vez, chegarmos ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida com cada moto que nos chega às mãos.

Porém no dia 25 de julho à noite, o Marcelo Vingador me ligou para se despedir e para perguntar se eu queria algo de Brasília (DF), pois no dia 27 de julho ele partiria para o 3º Moto Capital, e de repente me bateu uma saudade forte de amigos muito especiais que lá estariam. Juntando-se a isso o incentivo da Fatiminha que me queria longe, liguei logo de volta ao Marcelo e, apesar da cirurgia que sofri recentemente, fechei com ele nossa ida ao ninho do poder, desde que meu saldo bancário me dissesse que sim.

Assim, saí de Guarulhos (SP) às 5:30 hs do dia 27 de julho, dia do motociclista, rumo a Atibaia (SP) pela Rodovia Presidente Dutra (BR-116) e depois pela Rodovia Fernão Dias (BR-381) para me encontrar com o Marcelo Vingador. Entre Guarulhos e Atibaia, na altura de Terra Preta em Mairiporã (SP), o frio gelou-me até os pensamentos.

Saímos de Atibaia às 7:00 hs rumo ao 3º Moto Capital e inicialmente pegamos a Rodovia Dom Pedro I (SP-065) até Campinas (SP). Dali seguimos pela Via Anhanguera (SP-330) até Ribeirão Preto (SP) e depois até a divisa com as Geraes. Neste trecho inicial, entre Jarinú e Itatiba (SP), o frio pegou pesado e nos foi bem difícil permanecer pilotando. Se fosse o caso ali de um xixizinho amigo, teria sido para nós muito difícil de encontrar a ferramenta para tal...

Entramos em Minas Gerais seguindo pela BR-050, e num pit stop técnico-mijatório resolvemos que iríamos relaxar e passear para aproveitarmos o tempo bom que estava fazendo, e chegaríamos a Brasília somente no dia seguinte. Daí chegamos a Catalão (GO) e resolvemos seguir a sugestão do querido amigo Estênio, máster do Brazil Rider´s em Brasília, e pernoitar ali, onde nos instalamos no acolhedor Hotel Boullevard, extremamente novo e com custo-benefício altamente compensador.

Neste trecho, na altura de Ribeirão Preto, o sol já estava rachando mamona e estava difícil pilotar de jaqueta, e permaneceu assim até o anoitecer, quando a temperatura deu um bom refresco. Naquela região o dia esteve muito, muito quente, e o ar com uma secura preocupante. Foi muito triste ver a vegetação das margens da rodovia, de Orlândia (SP) até Catalão (GO), totalmente queimadas e ainda com muitos focos de fogo ainda vivo, e o mais triste é que ali o poder público não estava tomando nenhuma providência a respeito.

Jantamos um rango correto no Auto Posto JK (rango sem gasolina), fizemos alguns telefonemas, contatamos o Estênio em Brasília, o Foffão e o Carlos Perez que pernoitariam em Belo Horizonte (MG) devida a uma pane de refrigeração na moto do Foffão, falamos com o Sérgio de Taquaritinga (SP) e ligamos para casa, quando a Fatiminha me deu a boa notícia de que minha ZX-6 tinha sido vendida. Daí voltamos ao hotel para descansarmos e nos prepararmos para a jornada do dia seguinte.

Da Via Dutra em Guarulhos até a divisa de Minas Gerais com Goiás, após Araguari (MG), as estradas estão muito bem conservadas, excelentes. Mas entrando-se em Goiás, até Catalão, o asfalto virou uma colcha de retalhos, pois a BR-050 encontra-se mais remendada que a Constituição Nacional.

Importante se registrar aqui que nesta viagem o Marcelo Vingador estreou a nova roda traseira da sua Shadow, uma baita rodona de liga leve com freio a disco e pneu 200 ! Muito linda. Parabéns pelo bom gosto, Marcelo.

Dia 28 de Julho

A sexta-feira amanheceu de bom humor, sorrindo, com um sol lindo e céu de brigadeiro. Tomamos um bom café da manhã e pegamos novamente a BR-050 com destino a Brasília e no rumo de Cristalina (GO). Esperamos que o Sérgio nos ligasse de Uberlândia (MG) até às 8:40 hs, mas como ele não ligou, seguimos o caminho da roça.

De Catalão a Campo Alegre de Goiás a BR-050 está razoavelmente bem conservada, mas dali pra cima até Cristalina, teve muito trecho bem ruim com muito remendo desnivelado e muita costela. Mas conseguimos passar sem atropelos.

Chegando a Cristalina fizemos um pit stop para desaguarmos, molharmos a palavra, reabastecermos as motos e esticarmos as pernas. Aproveitamos para ligarmos para o Edu, máster do Brazil Riders em Brasília, para avisá-lo de que estávamos já próximos, e foi um telefonema providencial pois ele nos orientou para pegarmos uma estrada muito nova que nos levaria até um entroncamento com a GO-010, e por esta última até Luziânia (GO). Trata-se de uma estrada totalmente deserta que, de tão nova, ainda não recebeu a camada final de cobertura asfáltica e por conseqüência ainda não conta com sinalização de solo. Sua denominação provisória é GT-436. Sem dúvida é uma variante muito vantajosa pois faz com que o viajante evite os inúmeros buracos e remendos da BR-040 entre Cristalina e Luziânia. É um tapetinho negro cortando o cerrado do Planalto Central.

Todo o trecho goiano por onde passamos é muito desolado, pesa um pouco na alma, e por alguns momentos me remeteu ao Deserto da Patagônia, na Argentina, “con su soledad” tão característica.

Assim, graças à informação preciosa do amigo Edu, chegamos ao Distrito Federal e à Brasília sem percalços e rodando por estradas muito boas mesmo. Já dentro do Distrito Federal paramos no posto da Polícia Rodoviária e telefonamos ao Edu para que o mesmo nos fizesse a gentileza de nos ciceronear pela Capital Federal até o hotel indicado pelo Estênio, e com o qual o mesmo havia feito contato. Ou seja, rodamos 1.000 km apenas para incomodar os amigos !

Dali seguimos em comboio até o Núcleo Bandeirante e ficamos dando voltas a procurar pelo tal hotel. O Edu na frente e o Marcelo e eu atrás ... parecíamos até 3 perús bêbados. Mas finalmente o Edu conseguiu encontrar o Buriti Plaza Hotel, onde nos instalamos e o Edu aproveitou para fazer uma reserva para o Foffão e o Carlinhos Perez.

Após nos recompormos, fizemos um almoço ajantarado por volta das 17:30 hs e depois passamos a aguardar a chegada do Foffão e do Carlos Perez procedentes de Belo Horizonte, o que aconteceu às 19:00 hs, conduzidos pelo Estênio. Daí os recém-chegados se instalaram no hotel e foram se ajeitar, pois a noite prometia.

Pouco após às 20:00 hs o Estênio nos pegou no hotel e nos levou para o recinto do 3º Moto Capital, às margens do Lago Paranoá. Lá chegando nos instalamos na barraca do Amigos Gansos M.C. que gentilmente cederam seu espaço para que os membros presentes do Brazil Rider´s pudessem se concentrar e se congraçar. E de quebra nos ofereceram um delicioso caldo verde que foi regado a Skol sob os protestos do Foffão, além da ótima hospitalidade e do bom papo.

Nesta primeira noite, sexta-feira, tivemos as presenças dos seguintes riders: Foffão, Marcelo Vingador, Edu & sua esposa Márcia, Estênio, Gargamel, Sérgio de Taquaritinga, do Renato Lopes, Kleber (ou Cleber ?) e Edson de Santa Maria (RS), e do De Carli & esposa do Paraná, além de mim. Também estivemos com um grande número de motociclistas importantes.

Como o Foffão não conseguisse entender o fluxo de trânsito de Brasília nem os caminhos percorridos pelo Estênio e pelo Edu a nos conduzirem, o Sérgio resumiu tudo com uma pérola da filosofia contemporânea: “Brasília é uma reta curva !” Uma autêntica simbiose entre Platão, Descartes, Scaringela e Tiririca ! O Sérgio é mesmo um grande cara e um cara grande.

Quanto ao evento em si, em que pese o local privilegiado, padece da mesmice de todos os outros de uma forma geral, com a agravante de ser organizado por um motociclista de araque que só visa lucro em cima dos irmãos de estrada e que mistura (muito) motociclismo com política. Além disso este evento tem um lay out equivocado, comprido e estreito, dificultando a locomoção. Também os banheiros estavam imundos. Mas como fomos ali para fazer e rever amigos e os riders, para nós estava tudo certo.

Nessa noite saímos do evento bem cedo, pouco depois das 2:00 hs da madrugada, e ainda ficamos de papo no saguão do hotel até às tantas... com umas cervejinhas, claro. E pra arrematar um bom cafezinho.

Dia 29 de Julho

O sábado amanheceu alegre, maravilhoso. A gente foi tomar café da manhã bem cedo, às 10:00 hs da manhã. O Foffão ficou fazendo anotações em seu diário de bordo e eu deixei o Marcelo com ele e subi para o quarto objetivando uma fisiológica.

Depois de um bom papo defronte ao hotel, o Estênio veio nos buscar para nos levar à concessionária Suzuki Moto Show, onde a raça já nos esperava com um churrasquinho regado a Skol geladinha. O Marcelo aproveitou para trocar o óleo de sua Shadow ali, e após isso nos dirigimos à Galeteria Gaúcha onde almoçamos nababescamente em meio a uma confraternizaçãozinha entre os riders que se encontravam em Brasília. Para nossa surpresa, de repente chegou o Everson, máster do Brazil Rider´s em Bom Despacho (MG), que estava almoçando com o Adams perto dali. Nessa galeteria ficamos até o final da tarde.

Dali o Edu nos ciceroneou até o centro nevrálgico e doente da administração deste país, e fizemos fotos na Praça dos 3 Poderes e na Catedral.

Depois fomos para o evento novamente. Ali nos instalamos mais uma vez na barraca dos Amigos Gansos M.C., que desta feita nos ofereceram um suculento churrasco. Reencontramos muita gente, e outros mais foram chegando, como o Pelega, presidente do Calangos do Asfalto M.C. de Pirapora (MG); o Agostinho, sua esposa Ilca e o Moleque de Itaoca (RJ), e o Expedito do Maranhão.

Nesta noite o evento estava mais vazio, e por isso mesmo mais agradável de se ficar, muito embora um tanto confuso e com os banheiros de novo perdidos de sujeira e fedentina. Porém, o por do sol no Lago Paraná compensou tudo, pois foi deslumbrante. Um prêmio para nossas retinas.

Mais tarde se juntou a nós o Rodrigo, master do Brazil Rider´s em Divinópolis (MG). Nesta noite o Edu, o Estênio e eu tivemos uma conversa muito produtiva acerca do Brazil Rider´s, e concluimos que estamos alinhados e prontos para a Convenção Nacional de novembro em Juatuba (MG).

Voltamos do evento bem mais cedo que no dia anterior e fizemos uma reunião informal na entrada do hotel. Como estava acontecendo uma festa da Paróquia de São João Bosco bem defronte ao hotel, o Carlos Perez e o Marcelo resolveram ir lá buscar yakissoba para nossa janta, regado a mais umas cervejinhas para manter o costume. E foi muito bom.

Nessa noite fomos dormir bem mais cedo, pois o dia seguinte seria bem puxado... dia de regresso para todos nós.

Aqui cabe um adendo importante: O Edu e o Estênio, o Estênio e o Edu se desdobraram em atenção e gentilezas para facilitar nossa estada e nossa visita a Brasília e ao 3º Moto Capital.

Outro adendo que julgo pertinente: Brasília é uma cidade linda, ampla, limpa, organizada e convidativa. Sob os pontos de vista arquitetônico, paisagístico, habitacional e de fluxo de tráfego, é perfeita. Pena que abrigue em suas entranhas o centro do poder que corrompe e estraga tudo.

Dia 30 de Julho

O domingo amanheceu com uma cara boa, apenas com a temperatura um pouco mais amena... digamos que o tempo estivesse com frescuras...

Fomos despertados pelo badalar dos sinos da igreja vizinha de São João Bosco, o que já foi um bom sinal. Tomamos um bom e reforçado café da manhã, arrumamos as bagagens, lubrificamos as correntes das motos, fizemos nossas despedidas e fomos ciceroneados pelo amigo Estênio até a boca da rodovia.

O Marcelo e eu fomos encaminhados primeiramente, no rumo sul, e o Estênio seguiu caminho para deixar o Foffão e o Calos Perez na saída norte, pois os dois seguiriam para Conceição do Tocantins, Palmas (TO), e pelo norte do Brasil afora. Chegaram juntos a Belém (PA) e de lá o Carlos Perez voltará para o Rio de Janeiro e o Foffão seguirá para o Oiapoque (AP). Boa viagem, meus queridos.

A gente tratou de sair logo do hotel para a estrada, para que o Estênio pudesse curtir a transmissão do GP de F1 da Alemanha, vencido pelo Schummi e secundado pelo Massa.

Nesse domingo acordei angustiado, estranho, com uma espécie de aperto na garganta, sem saber direito o que ocorria, uma sensação não muito boa. E olha que o Foffão, não sei por que, me pediu para eu não fazer a viagem de volta num tiro só. Não sou dado a chiliques de cunho ocultista, premonitório ou extra-sensorial, mas passei a ficar mais atento. Yo no creo em brujas, pero que las hay, lss hay...

Programamos fazer o mesmo itinerário da vinda por entendermos ser o melhor, e tivemos a sorte de a temperatura estar um pouco mais baixa, o que tornava a viagem bem mais agradável.

Paramos em Cristalina para comprarmos artesanato de pedras semi-preciosas da região e para buscarmos a energia dos cristais. Dali fomos fazendo paradas regulares a cada 150 km até Uberaba, quando decidi que não seguiria viagem até Guarulhos nesse dia, pois me deu uma estranha sensação... como se alguém me dissesse para eu parar, e decidi pernoitar em Aramina, já no Estado de São Paulo.

O Marcelo Vingador seguiu viagem noite adentro apesar do frio intenso. Prá piorar a coisa, a chuva o pegou na altura de Leme (SP) e o acompanhou até em casa, em Atibaia. Mas felizmente ele chegou bem, muito embora ensopado e com muito frio.

Dia 31 de Julho

Em Aramina a segunda-feira amanheceu cinzenta, feia, enevoada, com um frio da porra ! Era como se o céu fosse um incomensurável e irreal olho com catarata.

Tomei o café da manhã e peguei a Via Anhanguera (SP-330) no sentido São Paulo, encapotado na medida do possível. Essa névoa densa e esse frio forte me envolveram até a altura de Orlândia (SP), e a sensação visual dessa espécie de fog, era como se houvesse na região um número infinito de Foffões-Pererê escondidos nas matas a fumarem compulsivamente.

Em Orlândia começou uma chuva forte e a visibilidade baixou muito me obrigando a diminuir o ritmo da viagem, e isso me acompanhou até Ribeirão Preto, onde cedeu espaço para um arremedo de sol que brincava de esconde-esconde entre nuvens, mas que ajudava a secar um pouco do encharcamento das minhas calças “impermeáveis” da G-Tech.

Na altura de Leme o sol se escondeu definitivamente, aumentando em muito a sensação de frio. Em Araras (SP) uma chuva consistente estava me esperando, e me acompanhou sem dar tréguas até a entrada para Morungaba (SP), já na Rodovia Don Pedro I (SP-065). Como eu me havia esquecido da capa de chuva, ou melhor, eu não a havia levado deliberadamente, minha situação não estava lá muito boa. Passei por Jarinú com uma névoa extremamente densa, como que num avião entre as nuvens, e a sensação térmica era a de um freezer com as brahmas do Foffão.

A partir daí a chuva deu uma trégua razoável e somente voltou a me incomodar após o túnel Mata Fria que corta o maciço da Serra da Mantiqueira que divide Mairiporã e São Paulo na Rodovia Fernão Dias (BR-381), quando começou uma chuva fina, fria e persistente.

E cheguei em casa, em Guarulhos, molhadaço, cansado e com muito frio, mas inteiro, são e salvo, e pronto para outra.

Quero aqui agradecer a todos, citados ou não, que de alguma forma contribuíram para que essa nossa viagem se tornasse possível e fosse tão agradável, e em especial a meu querido companheiro de viagem Marcelo Vingador, aos nossos muito prezados anfitriões Edu e Estênio, aos nossos companheiros de hotel Foffão e Carlos Perez, e ao ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira por ter construído uma capital federal tão bela

Marcão, em 05 de agosto de 2.006

 

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