Da Patagonio à Mar Del Prata

03-11-2004 17:11

Da Patagônia a Mar del Plata

No dia 1 de novembro levantamos, arrumamos as tralhas, verificamos as motos (imundas) e tomamos café meio logo visando a ida para Neuquén. Como o dia estava ruim, chovendo e com ventos muito fortes, resolvemos aguardar mais um pouco prá ver no que virava, e saímos as 11:00 hs, com chuva no lombo e um vento lateral insuportável.

Pegamos a Ruta 40 novamente retornando até o seu entroncamento com a Ruta 237. Após alguns kilómetros de estrada paramos para fotografarmos um lugar extremamente lindo, impressionante, quase irreal, chamado de Anfiteatro pela sua forma natural, e de onde se pode observar todo o esplendor do Vale do Rio Limay, com suas águas absurdamente verdes e uma vegetaçao exuberante, com um sem número de álamos e pinheiros.

A Ruta 237 acompanha o vale do Rio Limay por cerca de 140 km rio abaixo, a qual o rio empresta sua paisagem de sonho. Deslumbrante.

Após cerca de 80 km a vegetação começa a ficar bem mais pobre, já com características totais de uma região mais desértica. Daí nos demos conta de que já estávamos mergulhados no Deserto da Patagônia. Que ermo! Que melancolia!

Neste trecho tivemos momentos de apreensão, pois tínhamos informação de que nao havia trecho com mais de 160 km sem postos de abastecimento, e como havíamos abastecido em Bariloche, pisamos fundo. 200 km após ainda não havíamos avistado nenhum posto, e vimos uma placa indicando a direita Estacón Piedra del Aguila. Como a moto do Tony estava com a gasolina no fim, resolvemos entrar. 13 km a frente chegamos ao que era uma estação de retransmissao de energia elétrica. Mas era só, não havia mais nada ali. Éramos dois perdidos no meio do nada. Confesso que preocupou um pouco, mas depois fomos informados ali de que a 6 km após o entroncamento em que havíamos entrado, havia um posto, no pueblo de Piedra del Aguila, onde chegamos com 211 km rodados, além dos 25 km do desvio para a estación!!!

Neste posto fomos informados de que 70 km a frente de Bariloche há um posto pequeno, FORA DA ESTRADA! Então tá! Só que esse postinho não é visivel da estrada. Agora já foi. Que merda.

Prosseguimos rodando por uma ampliadao totalmente desolada, e o vento lateral nao nos dava trégua em momento algum nas grandes retas infindáveis. A desolação da região é tal que muitas vezes tem-se a impressão de que a estrada liga o nada a lugar nenhum. Atravesar o deserto da Patagônia é uma tarefa árdua e triste, porque a vastidão desolada dá uma solidão muito grande, que abate o moral, desanima e cansa.

Depois de um bom tempo voltamos a ver alguns álamos, depois muitos deles, e após uns 153 km depois da última parada chegamos a um posto em Villa El Chacon, La Ciudad de Los Dinosaurios! É verdade, há um parque dos dinossauros alí, bem no meio do deserto da Patagônia. E a gente do lugar nos pareceu muito simpática e receptiva.

Daí seguimos até Neuquén, a capital do petróleo da Patagônia. Não recomendamos Neuquén a ninguém, pois a cidade não é nem um pouco hospitaleira. É uma cidade industrial e comercial demais. Os hotéis são muito ruins e muito caros. Melhor pernoitar um pouco antes ou depois. Neuquén somente se presta caso haja a necessidade de algum reparo nas motos ou da compra de alguma coisa, pois a cidade tem de tudo. Nos instalamos num hotelzinho safado e fomos jantar uma boa pizza. Depois, cama, que o desrto foi punk. Ah! A garagem do tal hotel era por demais sinistra, estranha mesmo, parecia a garagem da família Adams. Depois percebemos que ela deve ter sido a sala de exibição de um cinema de gosto duvidoso.

02/11/2004
No dia 02 de novembro (ontem), não acordamos muito cedo, pois o Tony levou sua moto para trocar o óleo, motivo porque pernoitamos lá, e a oficina só abria as 9:00 hs.

Por força do frio, da neve e dos ventos do deserto, minhas mãos estão descascando muito. Prá quebrar o galho estou lixando as peles soltas.

Saímos de Neuquén as 10:45 hs e pegamos a Ruta 22 no sentido de Bahia Blanca. Para o norte de Neuquén até uns 60 km, o tráfago é por demais pesado e exige atençao. Até a uns 100 km ao norte de Neuquén a estrada é ladeada por extensos campos agricultados, divididos e guarnecidos por fileiras de álamos. Bonito. É a prova de que as regiões desérticas podem ser domadas.

Ao norte de Neuquén, como em várias regiões do interior argentino, o pó de ripio chega a incomodar um pouco.

Logo após a paisagem volta a ficar desértica, bem desértica e com ventos fortes novamente. Paramos em Chelforo, um pueblito no meio do nada em pleno deserto. Neste trecho voltamos a ter a impressão que estávamos indo a lugar nenhum. Grande solidão.

Para garantirmos combustível (gato escaldado) paramos a 85 km a frente em Chouele Chouel, onde ficamos conhecendo alguns integrantes de La Agrupación Moteros Ruidos Extraños, o Moto Clube de Chouele Chouel. Um pessoal muito gente boa que nos convidou para pernoitarmos lá com direito a um bom assado (churrasco). Pena que nao foi possível. Eles nos convidaram também para El 4to. Encuentro Nacional de Motos de Chouele Chouel, que acontecerá em 19-20 e 21 de novembro. Ficará para uma outra vez. Sucesso a Los Moteros de Chouele Chouel!

Daí paramos em Rio Colorado – La Puerta de La Patagônia, onde tencionávamos pernoitar, porém como o trecho estava fluindo bem resolvemos seguir a sugestao de los amigos moteros de Chouele Chouel e proseguimos até Bahia Blanca. Registro aquí que entre Chouele Chouel e Rio Colorado há uma pequena reta com 138 km!

Entao fomos adiante, pois após Rio Colorado o deserto já havia terminado para nós. Um alívio. A partir daí a paisagem árida dá lugar a extensas pradarias com capões, de grandes estâncias onde se pratica uma pecuária maiúscula.

Fizemos uma parada mijatória e alongante num posto fantasma em Algarrobo. Era o Tony fantasma num posto ídem. E seguimos por mais 85 km até Bahia Blanca, onde nos hospedamos no Hotel Belgrano. Razoável.

Em Bahia Blanca fomos jantar no excelente Restaurante For You. Pela primeira vez na Argentina encarei un tenedor libre (self service). Foi um arraso!!! Detonei. Tinha de tudo e muito, e até sobremesas eram 0800. Deixei o Tony com vergonha. Valeu muito a pena. Eta lugar prá se comer bem. Depois disso só mesmo uma cama. Boa noite.

03/11/2004

Hoje acordamos cedo, tomamos café e fomos até a Plaza Comodoro Rivadavia sacar unas fotos. Daí saímos de Bahia Blanca pela Ruta 3 no sentido de Tres Arroyos e com destino a Mar del Plata, mudando assim o plano de vôo inicial.

Para o norte de Bahia Blaca se repetem as imensas pradarias sem fim. A pecuária na Argentina é mesmo uma grandeza. Sao terras ricas, muito gado, muitas jineteadas, e um visual calmo e repetitivo.

Paramos em Tres Arroyos após 192 km. É uma cidade bem bonitinha, digamos, ficável. Alí tomamos a Ruta 228 no sentido de Recochea.

Com a mesma paisagem repetitiva chegamos a Recochea com mais 144 km, onde pegamos a Ruta 88 que nos levaria a Mar del Plata. Para se pegar a Ruta 88 a partir de Recochea, faz-se um anel a direita por fora da cidade, e estes primeiros 10 km até a segunda rotatória (rotonda) para Quequén está quase que intransitável. Tivemos que ter cuidado e fazer alguns malabarismos. Tudo certo.

Nesta região, nessa época do ano, apesar do tempo aberto e do sol, faz muito frio com o vento forte.

Em toda a Argentina e especialmente na Patagônia, há muitos insetos nas estradas. Haja bicho! A cada parada nossas roupas, capacetes, viseiras, luvas e botas mais parecem anúncios de Detefon! Terrível para limpar.

Nem no último trecho para Mar del Plata a paisagem mudou. Parece que as coisas de que os Argentinos mais gostam são falar mal do governo, contar piada de chileno e criar bois!

Ao nos aproximarmos de Mar del Plata a paisagem das planícies cede lugar para uma série de colinas suaves, e já se divisam ao longe os edifícios vários no horizonte. E daí estamos em Mar del Plata, novamente no Atlântico. Até o próximo relato.

Abrazos muchos y besos también.

Marcao e Tony

Mar del Plata, em 03 de novembro de 2004

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